Uma mulher de 24 anos que foi vítima de estupro teve o útero e o intestino perfurados durante a realização de um aborto legal em um hospital público do Distrito Federal. O procedimento, que ocorreu em abril, resultou em complicações graves para a jovem, que agora usa uma bolsa de colostomia. A paciente está desempregada e conta com auxílio-aluguel para se manter.
O estupro aconteceu em fevereiro deste ano, na Rodoviária do Plano Piloto. Segundo Angelo José Martins de Mattos, advogado da vítima, ela descobriu a gravidez em abril e contou a uma pastora de sua igreja. O então marido da mulher, ao saber da gestação, a agrediu.
Após ser agredida, a jovem registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil (PCDF) e foi encaminhada com a filha de 2 anos para um abrigo. Na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), ela formalizou a denúncia de estupro. Em seguida, foi levada ao Hospital Materno Infantil (Hmib) para realizar o aborto legal, em 23 de abril.
O advogado relata que a mulher chegou ao hospital em boas condições, mas, após o procedimento, passou a ter sangramentos severos. Embora ela reclamasse de dores, a médica responsável teria dito que era algo normal.
Mesmo com os sangramentos, a jovem recebeu alta e foi levada de volta ao abrigo. No dia seguinte, 24 de abril, a mulher foi novamente levada ao Hmib devido à grande perda de sangue. Segundo o advogado, novos exames foram solicitados, e a equipe médica descobriu a perfuração do útero e do intestino.
A paciente foi transferida para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde passou por uma nova cirurgia e precisou começar a usar uma bolsa de colostomia. A mulher não conseguiu acesso ao prontuário completo e, por isso, não sabe qual o estado atual de seu útero ou se o órgão foi retirado.
A jovem deixou o abrigo em 31 de julho, após cumprir o prazo máximo de três meses de estadia. Ela, que trabalhava em um restaurante, foi demitida devido ao uso da bolsa de colostomia e atualmente vive com um auxílio-aluguel de R$ 600. Para o advogado, houve uma série de erros, incluindo negligência por parte da médica e do governo, que, segundo ele, violou a lei de violência obstétrica.
O que diz a Secretaria de Saúde
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou, em nota, que tem conhecimento do caso e que todos os protocolos de segurança assistencial foram seguidos desde o primeiro atendimento. A pasta declarou que a paciente foi assistida após a intercorrência e continua recebendo acompanhamento.
O caso foi notificado e está sob investigação, conforme os protocolos de segurança do paciente. “A SES-DF reforça seu compromisso com a ética e o sigilo das informações em saúde”, afirmou.