A morte de Cleiciano das Neves Dantas, um detento de 22 anos, no Complexo Penitenciário da Papuda, em São Sebastião, na última segunda-feira (30/6), está sob investigação após seu corpo apresentar sinais de múltiplas agressões. Em decorrência do caso, dois policiais penais foram afastados de suas funções nesta sexta-feira (4/7), a pedido do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT).
Cleiciano estava preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) desde 30 de maio. Sua prisão ocorreu após um surto, denunciado por vizinhos. Com a chegada da polícia, ele teria atirado uma pedra contra uma viatura policial e tentado fugir, mas logo foi capturado e preso.
A família de Cleiciano alega que o jovem possuía problemas psicológicos graves, comprovados por laudo médico, e fazia uso contínuo de medicação controlada na época do surto. Segundo a viúva do homem, o detento teria ficado sem os remédios necessários durante o período em que esteve no CDP.
A guia de sepultamento aponta como causas do óbito choque hipovolêmico (redução significativa do volume sanguíneo) e hemorragia intra-abdominal. O corpo de Cleiciano apresentava diversos ferimentos espalhados pelo tronco, rosto e pernas.
A mulher defende que o marido deveria ter recebido tratamento adequado ao seu quadro em uma clínica especializada. Ela afirma que Cleiciano esteve constantemente no Pavilhão Disciplinar (PD) desde sua chegada à Papuda, saindo apenas por dois dias. A viúva suspeita que ele era constantemente agredido, o que, para ela, se confirmou pelos hematomas visíveis no corpo.
“Eu sempre acompanhava os dias de visita no sistema, qual cela estava e desde o primeiro dia ele sempre estava no castigo. Quando consegui fazer o cadastro para vê-lo, estava novamente no castigo. No dia que o tiraram, foi o dia que ele faleceu. Chegou na cela de convívio já machucado, passando mal. No enterro ele estava com muitos hematomas, joelho, rosto, boca e parte íntima machucados”, detalhou. Ela ainda afirmou que os servidores funerários observaram a grande quantidade de hematomas e sinais de desnutrição.
Investigação e medidas administrativas
A Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF) informou, em nota, que instaurou um Procedimento de Investigação Preliminar (PIP) para apurar administrativamente todas as circunstâncias relacionadas ao caso. A pasta aguarda o laudo com a causa da morte, elaborado pelo Instituto de Medicina Legal (IML), para a adoção das medidas cabíveis.
A Seape-DF “reforça que tem operado com o rigor exigido e colaborado com os órgãos competentes para esclarecimento do ocorrido”. O afastamento dos policiais penais ocorre para que as circunstâncias da morte sejam devidamente analisadas.