A emoção marcou o embarque das gêmeas Larissa e Lara Sophia Alencar, de 16 anos, na última quinta-feira (4), no Aeroporto Internacional de Brasília. Com o passaporte em mãos, as estudantes da rede pública de ensino seguiram de São Sebastião rumo ao Reino Unido para viver uma experiência inédita e única em suas vidas: um intercâmbio de três meses para aperfeiçoar o inglês e vivenciar uma nova cultura. Elas estão entre os 102 estudantes que foram selecionados para participar da primeira edição do programa Pontes para o Mundo, iniciativa do Governo do Distrito Federal (GDF) promovida pela Secretaria de Educação (SEEDF).
As duas partiram com uma mistura de animação, ansiedade e nervosismo. Essa será a primeira vez que as gêmeas ficarão separadas, cada uma em uma cidade, a uma distância de três horas e meia. “Nunca passei tanto tempo sozinha. É uma oportunidade única, mas dá muito frio na barriga”, admitiu Lara. “Nunca imaginei que poderia viajar com 16 anos, sozinha, para outro país. Esse projeto do GDF é muito importante e ajuda muitos adolescentes que, sem condições, não teriam essa oportunidade”.
A menina ficará na cidade de Chester, na Inglaterra, na residência de um casal de 60 e 59 anos, com duas outras estudantes do programa Pontes para o Mundo, para estudar no Cheshire College. “Vai ser uma experiência incrível conhecer outra cultura, outra comida, uma nova rotina. Quero levar na mala lembranças da minha família, um pedacinho de cada um comigo”, disse.
Já a irmã Larissa foi designada para um college de Cambridge, na Inglaterra. “Acho que essa experiência vai ajudar bastante no meu futuro profissional, porque pretendo fazer relações internacionais. Então, esse conhecimento e essa experiência com outras culturas e idiomas vai ser bom para minha futura carreira”, definiu. Ela também ficará hospedada com uma nativa que já abriga outra intercambista.
Apaixonadas por línguas desde cedo, as irmãs contam que pediram à mãe para estudar idiomas ainda aos 11 anos. “Queria aprender qualquer língua, para ter mais oportunidades na vida. Primeiro estudei três anos em uma escola particular e depois consegui vaga no CIL [Centro Interescolar de Línguas], que é uma ótima oportunidade para os alunos da rede pública. Hoje faço inglês e espanhol lá, com professores muito bons e ensino de qualidade”, ressalta Larissa.
A dona de casa Marly Alves, 51, mãe das gêmeas, não conteve o choro durante a despedida. As lágrimas misturavam a emoção pela oportunidade e a saudade antecipada das duas filhas. “É muito bom e importante para elas essa viagem. Tá sendo difícil, mas eu tô bem forte. O coração fica apertado, porque nunca ficamos tanto tempo longe. Moro só com meu marido, e vai ser difícil. Acho que vou chorar quase todos os dias. Mas sei que é importante para elas”, revelou.
Quando recebeu a notícia da aprovação, Marly disse ter sentido muito orgulho. “Até hoje estou orgulhosa delas. Quando fizeram a inscrição, eu achei que não ia dar certo. Pensei: ‘Ah, vai fazer, mas não vai acontecer’. Mas, de repente, deu. Elas mesmas diziam: ‘Essa vaga é nossa’. E realmente foi dando tudo certo, etapa por etapa, até chegar aqui, com as malas prontas. Minha expectativa é que elas voltem fortalecidas, com clareza do que querem para o futuro. Uma oportunidade dessas só aparece agora, não sei quando pode ter outra.”
O pai, o vigilante Dionísio de Lima Alencar, 55, destacou o papel do programa para a realização do sonho das meninas. “Não é todo mundo que consegue fazer uma viagem dessa. Temos que agradecer muito esse privilégio. Graças a essa iniciativa do governo local, vamos conseguir resolver essa viagem para esse intercâmbio. Uma coisa muito boa mesmo”.
Horas antes do embarque, as meninas se despediram também dos amigos do vôlei, ambas praticam o esporte no Centro Olímpico de São Sebastião. “É uma amizade muito verdadeira, estamos juntos todos os dias. Estou feliz por elas. É uma oportunidade muito boa. Estou me despedindo, mas já me preparando para o retorno. É difícil, mas passa rápido”, comentou o estudante Carlos Eduardo Pereira, 16 anos.
Instituído em maio pela Secretaria de Educação, o programa tem o objetivo de proporcionar vivências acadêmicas, culturais e de inovação em instituições de ensino do Reino Unido. Ter boas notas na escola e falar outro idioma estão entre os pré-requisitos para participar do programa. Além de preparar o caderno, a caneta e as roupas na mala, os selecionados também cuidaram da saúde mental, passo importante para potencializar os aprendizados, ampliar a autonomia e enriquecer ainda mais a vivência no exterior.
Durante a estadia, os estudantes ficarão em escolas parceiras, com rotina definida conforme o calendário local e atividades que vão além da sala de aula, como visitas técnicas e culturais e encontros com orientadores. O intercâmbio prevê ainda apoio emocional aos participantes e às famílias. Desde o início de agosto, sessões de acompanhamento psicológico prepararam os estudantes para a experiência, com exercícios de autorregulação e incentivo à autonomia.
A partir do próximo ano, o programa contará com mais vagas — um total de 400 —, além da expansão para outros países, como Japão, Alemanha e Espanha. A novidade foi anunciada pelo governador Ibaneis Rocha, que indicou ainda o envio de um projeto de lei para a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) que transformará a iniciativa em um programa permanente. Segundo o chefe do Executivo, o projeto é uma das inúmeras iniciativas deste GDF em prol de uma educação de qualidade.