Mauro Cid nega ter usado a palavra golpe em depoimento à PF

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Um áudio vazado nesta quarta-feira (29) pela revista Veja e gravado no primeiro semestre de 2024 mostra o tenente-coronel Mauro Cid irritado com supostas distorções na forma em que sua delação premiada foi registrada pela Polícia Federal (PF) e divulgada para a imprensa.

Na gravação, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma que não falou a palavra “golpe” nenhuma vez, e mesmo assim o termo foi inserido na transcrição do depoimento. Não é possível saber exatamente a qual depoimento Cid se referia no áudio.

– Fala! Vou te dizer… Esse troço tá entalado, cara. Tá entalado. Você viu que o cara botou a palavra golpe, cara? Eu não falei uma vez a palavra golpe, eu não falei uma vez a palavra golpe! Então, quer dizer… Foi furo, foi erro, sei lá, acho até a condição psicológica que eu tava na hora ali [do depoimento]. P… Eu não falei golpe uma vez. Não falei golpe uma vez – salientou.

O termo “golpe” vem permeando os relatos de Cid desde o início de sua delação, sendo esse o assunto chave dos depoimentos que chegaram à imprensa. Na transcrição feita pela PF e vazada ao colunista Elio Gaspari, Cid teria dito que havia duas maneiras que estavam sendo buscadas para Bolsonaro se manter no poder:

A primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por meio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado – diz o registro da PF.

Esta não é a primeira vez que um áudio de Mauro Cid criticando a maneira como a PF lida com seus depoimentos se torna público. Em setembro do ano passado, uma gravação feita também no primeiro semestre de 2024 vazou à imprensa. Nela, Cid acusa a Polícia Federal (PF) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de o coagirem a aderir uma “narrativa pronta” em depoimento.

– Eles queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu. Não vai adiantar. Não adianta. Você pode falar o que você quiser. Eu vi isso ontem. Eles não aceitavam e discutiam, que a minha versão não era verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo. Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam – disse.

– Eu vou dizer pelo que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem. Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação – acrescentou ele, na ocasião.

Para a revista Veja, que obteve os áudios, Cid estaria fazendo um “jogo duplo” a fim de delatar ex-aliados e ao mesmo tempo afirmar que suas declarações estão sendo distorcidas. Suas falas estão em sigilo no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e a maneira exata como foram proferidas só poderá ser confirmada se os arquivos forem tornados públicos.

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